Reciclar passa por uma mudança profunda de mentalidades. Passa por reciclarmos ideias. Ideias que nos foram modelando ao longo da vida, ou ideias que nos foram metidas na cabeça à força de tantas campanhas que nada têm a ver com reciclagem ou com preocupações ambientais.
Antes de pensarmos em reciclagem, devíamos pensar em reduzir a produção de resíduos. Questões como colocar a garrafa no vidrão resolvem apenas o problema das empresas de reciclagem terem, ou não, de separar os resíduos. Mais importante é decidirmos comprar apenas bebidas sem tara perdida. Darmo-nos ao trabalho de trocar a garrafa da cerveja na hora de comprar outra.
Já repararam como todas as campanhas ambientalistas apelam à separação de resíduos, mas raramente apelam à diminuição dos mesmos?
Se não repararam, façam o favor de reparar. E reparem também no nome das entidades envolvidas.
Normalmente é o Ministério do Ambiente (no seu papel de gastador do dinheiro do contribuinte) e uma empresa de reciclagem (na região da Grande Lisboa é a Valorsul).
Já pensaram que se nós reduzíssemos, drasticamente, a produção de resíduos, essas empresas iam à falência?
Por isso é que elas apelam à separação dos resíduos (sabe-lhes bem fazerem a recolha dos produtos já separados), mas nunca se preocuparam com a sua diminuição.
Que me lembre, só o Guterres prometeu penalizar o uso de taras perdidas, mas como vozes de burro não chegam ao céu, parece que ficou tudo em águas de bacalhau - como aconteceu com quase tudo em que o Guterres se meteu, benza-o deus.
A reciclagem de uma tonelada de vidro poupa (X) toneladas de combustível necessário à produção de vidro novo.
Mas uma tonelada de garrafas vazias, prontas a serem reutilizadas, reduz a zero o consumo de energia necessária para produzir garrafas novas a partir de vidro velho. E reduz a zero o lucro da Valorsul (e congéneres). Para estas empresas, quanto mais garrafas para derreter, melhor. E que se lixe o ambiente.
O que é válido para garrafas é válido para qualquer embalagem.
Eu estou farto de falar nisto (noutros blogues por onde já andei) e nem sempre as minhas ideias foram bem compreendidas. É evidente que amanhã vou ter uma data de comentários todos muito moralistas (muitos deles de pessoas que nem levam as garrafas ao vidrão lol), que "temos de começar por algum lado" e que "sempre é melhor separar o lixo, do que não fazer nada pelo ambiente". Mas isso não é novidade nenhuma. Nem eu estou aqui a "pregar" para convencer o mundo a deixar de separar o lixo. O que eu gostava era que reparassem nos resultados práticos que isso traz.
Acham que esta política tem contribuído para a diminuição de resíduos?
Eu diria:
- Olhem que não! Olhem que não!
Eu não estou em condições de fazer afirmações peremptórias nesse sentido, porque não leio relatórios nem tenho acesso a mais informação do que qualquer cidadão. No entanto, é do senso comum que a produção de resíduos urbanos aumenta todos os anos. É certo que também a quantidade de resíduos reciclados tem aumentado, mas isso é fruto, precisamente, do aumento dos resíduos.
Abreviando, antes que os meus amigos se fartem e "mudem de canal":
- A reciclagem é um maná para quem produz embalagens e para quem recicla. E se a separação do lixo é um dever cívico que todos devemos ter em conta, a redução das embalagens deve ser levada muito a sério, ainda que isso não agrade aos barões do lixo.
Eu faço as compras num hipermercado que, já este ano, passou várias semanas a oferecer sacos para compras. São muito resistentes e não são feios de todo e evitam a proliferação de sacos de plástico, com as consequências para o ambiente que todos conhecemos. E podia aliviar o tempo de espera nas caixas, se a maior parte dos clientes não se comportassem como parvinhos e deixassem de ensacar as compras ali mesmo. Se levassem as compras a granel, dentro do carrinho e as arrumassem no estacionamento, junto do carro, evitavam-se as filas na caixa. Mas isso já era pedir muito a esta gente…
Resta saber se os outros hipermercados estão dispostos a fazer o mesmo e se sim, o que é que vai ser dos resíduos de petróleo utilizados no fabrico de sacos de plástico.
O Mundo está transformado numa pescadinha de rabo na boca e vai ser difícil fugir ao nosso destino. E já estamos em contagem decrescente…
P.S. Ninguém me paga para fazer publicidade e por isso pensei não dizer o nome do hipermercado. Mas pensando melhor, e como eu gosto muito dos seus preços e acho que esta é a atitude correcta em relação aos resíduos, o hipermercado é o Feira Nova (grupo Pingo Doce) e os sacos são muito giros.